Bah! Verdades das quais o mundo ri e não pode aceitar. Que a vergonha é o prazer acovardado. E que a culpa é como a morte querendo viver. E cuja Donna por demais amada precisa, para a realização plena de sua identidade - do âmago justo daquilo que se adora -, ser deixada livre, admirada de longe, por vezes em quase segredo, apenas. Só assim, ela, a musa desejada, pode se determinar e se manifestar como cada vez mais Ela - o próprio objeto do desejo.
A paixão corta, oprime, dilacera, complexifica, por fim, domina, maltrada, coloniza, modifica. O amor é pura contemplação.
Mas podem os dois não coexistir? Essa é a semente que atormenta minhas noites, transforma pagus e esperanças em ruínas ancestrais, fertilidade em inércia, brilho em opacidade.
E como pensar a normalidade patológica de tamanho culto à liberdade, aos desejos individuais, à ode do sujeito como fragmento? Digo doentio porque fadada a deteriorar, sistematicamente contraditória, incapaz de satisfazer-se senão como reprodução do próprio desejo de se satisfazer.
Mas amar não pode ser diferente; nada senão o prazer doloroso de observar a satisfação do outro, ou morrer na ansiedade de nunca percebê-la senão como eterna e incipiente potência.
O que pode esperar o justo espírito senão, um dia, encontrar esse fardo, que tanto lhe habita o peito, também em outrem? Afinal, se me perguntas o que acho do individualismo, dir-lhe-ei, de uma só palavra, que acredito ser impossível para uma pessoa colocar flores no seu próprio túmulo.
E nada nesse mundo se faz sem uma bela lápide florida.
2 comentários:
Adorei o texto. =*
Nossa, adorei seu texto, e fiquei muito feliz pelo elogio que vc deixou no meu blog! Seja sempre bem vindo. Laura
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