segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Ah, querer! não, nada teve a ver com o querer. Mas como quis de outro modo? Não seria a sinceridade espécie de droga, como substância capaz de existir, de uma vez remédio e, de outra, veneno? Ambígua, sim, às vezes do pharmakon platônico. Nela, não apenas suas palavras, mas antes suas vontades mais íntimas conspiraram para empeçonhentar tais corações sobressaltados. 

Bah! Verdades das quais o mundo ri e não pode aceitar. Que a vergonha é o prazer acovardado. E que a culpa é como a morte querendo viver. E cuja Donna por demais amada precisa, para a realização plena de sua identidade - do âmago justo daquilo que se adora -, ser deixada livre, admirada de longe, por vezes em quase segredo, apenas. Só assim, ela, a musa desejada, pode se determinar e se manifestar como cada vez mais Ela - o próprio objeto do desejo.
 
A paixão corta, oprime, dilacera, complexifica, por fim, domina, maltrada, coloniza, modifica. O amor é pura contemplação. 
Mas podem os dois não coexistir? Essa é a semente que atormenta minhas noites, transforma pagus e esperanças em ruínas ancestrais, fertilidade em inércia, brilho em opacidade. 

E como pensar a normalidade patológica de tamanho culto à liberdade, aos desejos individuais, à ode do sujeito como fragmento? Digo doentio porque fadada a deteriorar, sistematicamente contraditória, incapaz de satisfazer-se senão como reprodução do próprio desejo de se satisfazer. 

Mas amar não pode ser diferente; nada senão o prazer doloroso de observar a satisfação do outro, ou morrer na ansiedade de nunca percebê-la senão como eterna e incipiente potência.

O que pode esperar o justo espírito senão, um dia, encontrar esse fardo, que tanto lhe habita o peito, também em outrem? Afinal, se me perguntas o que acho do individualismo, dir-lhe-ei, de uma só palavra, que acredito ser impossível para uma pessoa colocar flores no seu próprio túmulo. 
E nada nesse mundo se faz sem uma bela lápide florida.  

  

2 comentários:

Anônimo disse...

Adorei o texto. =*

Laura H disse...

Nossa, adorei seu texto, e fiquei muito feliz pelo elogio que vc deixou no meu blog! Seja sempre bem vindo. Laura